Voltei. Fui ali, mas voltei. No caminho, parei por alguns instantes na frente do meu YouTube de vidro. É, ele ainda é vidro - imagens alargadas e pastosas não abrem meu apetite, deixo para vê-las nos restaurantes que vendem comidas e imagens a quilo.
Falar nisso, o que é aquilo? O que são aquelas pessoas atrás da bancada dos telejornais, que raio de idioma elas falam? Não bastasse o tísunami de písicologias e písiquiatrias (tudo a ver com quem cresceu ouvindo ô pissit, você aí da poltrona), temos agora a superbactéria KPC. Sabe aquela bactéria que não é bactéria e está pegando geral? Pois é, ela mesma. Muito bom, qualquer coisa "super" é superlegal para chamar a atenção. Mas alguém devia é chamar a atenção daqueles telejornaleiros. Como assim, bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (ou KPC)? Duvidei, parece coisa de quem lê sem pensar, que acha que sujeitos e predicados ficam nas mesmas posições no mundo todo. E, como diz o outro, não custa pensar. Desconfiei. Procurei uma fonte séria de informação e achei um trabalho científico, coisa com o pomposo título de "Avaliação fenotípica da enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) em Enterobacteriaceae de ambiente hospitalar"*. Viu só? Caraca, maluco, eu não estava desconfiado à toa - KPC é a enzima C (carbapenemase), produzida pela bactéria KP, e estamos combinados.
Mas como televisão é desinformação e deformação, vamos engolindo sapos e bactérias. E vai que agora alguém é entrevistado e fala assim, desse jeito mesmo: "a superbactéria KPC, ela está se disseminando...". Ei, por que não é "a superbactéria está se disseminando..."? Que raios de ela é esse, de onde veio esse pronomismo, agora que agente a gente já tínhamos tinha conseguido mandar o gerundismo embora? Peraí, vou buscar meu nariz de palhaço para ouvir o resto.
Não deu tempo. Voltei de novo, ou revoltei, e a matéria já tinha terminado. Agora era o ministro Guido Mantega quem falava: "a inflação, ela está sob controle". Ei, até o ministro? Caraca... Ou o ministro, ele não sabe falar o idioma português ou então desaprendeu, de tanto ouvir telejornaleiros, nesses tempos em que o ensino, ele vive de esperança.
Esperança. Logo depois, veio uma matéria sobre esperança de vida. Legal, é bom ter esperança nessa vida, vou prestar atenção... êpa, obraram de novo, não era nada disso. Era sobre a divulgação do IDH, da Onu. Sabe o IDH, aquele conjunto de algarismos e gráficos que dizem que está tudo mais legal no país do Carnaval? Pois é, aquele IDH. Mas foi só a Onu divulgar o numerológio para vir mais um golpe na última flor do Lacio, etc e tal. Então é isso, acabaram com a expectativa de vida - agora é esperança de vida. E de onde diabos isso pode ter vindo? Só pode ser coisa do espanhol, aquilo que nossos hermanos falam. Só pode ser. Google jacta est... bingo, esperanza de vida! Catzo, essa tal de Ley de Medios... olha o poder que ela tem, ela até faz o idioma de Castella tomar o lugar do meu prezado português. Agora resta aguardar a consolidação do Censo 2010, que vai dizer se o Brasil tem hoje mais campesinos do que camponeses; se tiver mais campesinos, é porque a Ley passou, ninguém soube, ninguém viu, como sói acontecer no Brasil.
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* Da introdução daquele estudo, de autoria de Rosabel Dienstmann, Simone Ulrich Picoli, Gabriela Meyer, Tiago Schenkel e Juçara Steyer: Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) é uma enzima produzida por bactérias Gram-negativas (enterobactérias), e sua detecção em isolado bacteriano confere resistência aos antimicrobianos carbapenêmicos, além de inativar penicilinas, cefalosporinas e monobactâmicos(14,15). É importante salientar que os carbapenens compreendem uma classe amplamente utilizada no tratamento de infecções envolvendo Enterobacteriaceaemultirresistente(3).
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