terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mike é cultura. Cultura de cana de açúcar, de uva, de seja lá o que em se plantando der. Só que Mike vai estar desisitindo desistir daquela outra, aquela com cê maiúsculo, tipo assim "Cultura". Hoje quem escreve sou eu, Joe, porque Mike está naquela fila, diante da Embaixada do Paraguai, país aonde onde pretende conseguir asilo cultural. 

Mike sempre falou sobre aquelas coisas antigas, tipo a leitura, ela ajuda o cerumano ser humano a ampliar seus horizontes, que é a partir da leitura que agente a gente aprende a pensar, escrever, contar para os outros o que vai pela nossa cabeça, falando ou escrevendo, enfim, que aprendemos a ligar os pontos, juntando a ideia A com a ideia B para chegar na ideia C e por aí vai, tipo musculação mental. (Peraí!, juntar A com B tem limites - neste exato momento, lá na telementirão, a âncora Beltrão consegue juntar na mesma frase Lady Gaga, Darwin e Tchisunami... sei não, acho que Mike está no caminho certo.)

O fato é que houve um fato, um assalto lá no Ceará. E vai que um jornaleiro cobriu, informou para todo o Brasil e a coisa saiu na edição LCD de O Globo, exatamente assim:

FORTALEZA - Uma mulher foi assaltada dentro do cartório em Pindoretama, na Região Metropolitana de Fortaleza, e os ladrões levaram o dinheiro que ela ia usar para pagar a compra de uma casa. Ela contou que ela e o filho foram ao banco, sacaram R$ 37 mil para a compra de uma casa e, quando estavam no cartório, prestes a assinar o contrato, um homem armado entrou e anunciou o assalto.
De o filho da vítima, o assaltante colocou a arma próximo a cabeça dele e pediu que entregasse o dinheiro.
Os R$ 37 mil roubados foi recebido pela mulher de uma indenização do Governo do Estado. Ela mora à margem da CE-040 e esse trecho vai ser duplicado. Agora, a dona de casa ficou sem o dinheiro e vai ter que sair daqui em 30 dias.
A delegada de Pindoretama, responsável pelo caso, disse que a polícia tem pistas do assaltante.

Como assim, pagar a compra de uma casa? Como assim, os R$ 37 mil roubados foi recebido? Como assim, de o filho da vítima, o que é isso? O dinheiro foi recebido de uma indenização do Governo do Estado, a indenização foi lá e pagou, é? Agora, a dona da casa ficou sem o dinheiro - que estilo, fala sério... Mas o mais importante ficou em aberto: a vítima perdeu o dinheiro que "usaria para pagar a casa própria no Ceará". Espero que a compra da casa própria em Pernambuco ou Alagoas não sofra o mesmo contratempo.

Não dá para acreditar no primatismo primarismo do texto, não é? Joe teve a pachorra de capturar a tela para trazer para vocês dois. Vai que Mike mente...

Um, dois, sete, onze, chega...  chega de contar os erros desse baile funk gramático-sintático-semântico. Que estaria menos mal se não escrito por profissional. Afinal, se fosse texto de leitor, tudo bem - não existe diploma de eu-leitor, aquele cara que hoje substitui repórter e redator.

Como é que a leitura, única porta de entrada para a Cultura, pode se criar com exemplos assim? Nestes tempos de inclusão digital, quando milhões de recém-chegados ao mercado dos computadores baratos são expostos à informação, é esse o tipo de coisa que temos que ler no monitor, o substituto do obsoleto livro?

Fico por aqui. Vou ver se alcanço o Mike e pego uma aba na fila. Fui.

Em tempo: Mike pediu para avisar a vocês dois que, caso ele venha a escrever lá do Paraguai, é para verificar se existe um selo holográfico no canto superior direito da página inicial do blog. Se não existir, é porque o texto não é dele.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

As bancadas, essas fábricas de mancadas

Voltei. Fui ali, mas voltei. No caminho, parei por alguns instantes na frente do meu YouTube de vidro. É, ele ainda é vidro - imagens alargadas e pastosas não abrem meu apetite, deixo para vê-las nos restaurantes que vendem comidas e imagens a quilo.

Falar nisso, o que é aquilo? O que são aquelas pessoas atrás da bancada dos telejornais, que raio de idioma elas falam? Não bastasse o tísunami de písicologias e písiquiatrias (tudo a ver com quem cresceu ouvindo ô pissit, você aí da poltrona), temos agora a superbactéria KPC. Sabe aquela bactéria que não é bactéria e está pegando geral? Pois é, ela mesma. Muito bom, qualquer coisa "super" é superlegal para chamar a atenção. Mas alguém devia é chamar a atenção daqueles telejornaleiros. Como assim, bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (ou KPC)? Duvidei, parece coisa de quem lê sem pensar, que acha que sujeitos e predicados ficam nas mesmas posições no mundo todo. E, como diz o outro, não custa pensar. Desconfiei. Procurei uma fonte séria de informação e achei um trabalho científico, coisa com o pomposo título de "Avaliação fenotípica da enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) em Enterobacteriaceae de ambiente hospitalar"*. Viu só? Caraca, maluco, eu não estava desconfiado à toa - KPC é a enzima C (carbapenemase), produzida pela bactéria KP, e estamos combinados.

Mas como televisão é desinformação e deformação, vamos engolindo sapos e bactérias. E vai que agora alguém é entrevistado e fala assim, desse jeito mesmo: "a superbactéria KPC, ela está se disseminando...". Ei, por que não é "a superbactéria está se disseminando..."? Que raios de ela é esse, de onde veio esse pronomismo, agora que agente a gente já tínhamos tinha conseguido mandar o gerundismo embora? Peraí, vou buscar meu nariz de palhaço para ouvir o resto.

Não deu tempo. Voltei de novo, ou revoltei, e a matéria já tinha terminado. Agora era o ministro Guido Mantega quem falava: "a inflação, ela está sob controle".  Ei, até o ministro? Caraca... Ou o ministro, ele não sabe falar o idioma português ou então desaprendeu, de tanto ouvir telejornaleiros, nesses tempos em que o ensino, ele vive de esperança.

Esperança. Logo depois, veio uma matéria sobre esperança de vida. Legal, é bom ter esperança nessa vida, vou prestar atenção... êpa, obraram de novo, não era nada disso. Era sobre a divulgação do IDH, da Onu. Sabe o IDH, aquele conjunto de algarismos e gráficos que dizem que está tudo mais legal no país do Carnaval? Pois é, aquele IDH. Mas foi só a Onu divulgar o numerológio para vir mais um golpe na última flor do Lacio, etc e tal. Então é isso, acabaram com a expectativa de vida - agora é esperança de vida. E de onde diabos isso pode ter vindo? Só pode ser coisa do espanhol, aquilo que nossos hermanos falam. Só pode ser. Google jacta est... bingo, esperanza de vida! Catzo, essa tal de Ley de Medios... olha o poder que ela tem, ela até faz o idioma de Castella tomar o lugar do meu prezado português. Agora resta aguardar a consolidação do Censo 2010, que vai dizer se o Brasil tem hoje mais campesinos do que camponeses; se tiver mais campesinos, é porque a Ley passou, ninguém soube, ninguém viu, como sói acontecer no Brasil.


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* Da introdução daquele estudo, de autoria de Rosabel Dienstmann, Simone Ulrich Picoli, Gabriela Meyer, Tiago Schenkel e Juçara Steyer: Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) é uma enzima produzida por bactérias Gram-negativas (enterobactérias), e sua detecção em isolado bacteriano confere resistência aos antimicrobianos carbapenêmicos, além de inativar penicilinas, cefalosporinas e monobactâmicos(14,15). É importante salientar que os carbapenens compreendem uma classe amplamente utilizada no tratamento de infecções envolvendo Enterobacteriaceaemultirresistente(3).